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Climbing Trip a Benaoján, Ronda, Grazalema

Carlos Pereira em Techabola - 6c

O fim de semana prolongado do 1º de Novembro anunciava-se cinzento em termos de clima. Felizmente já tinhamos decidido partir para o Sul de Espanha, concretamente para Benaoján, junto a Ronda, em busca de rocha seca e quente. O grosso da coluna partiu na véspera do feriado. Eu, por força dos escassos 2 meses de vida do meu 1º rebento, só consegui passar a fronteira já o Sol ia bem alto no feriado de todos os santos.

Quando chegámos a Benaoján já os restantes membros da expedição tinham os dedos massacrados por um dia de escalada. Ainda tive tempo para testar a Techabola, um 6c do Sector Cueva del Zuque. Depois dei um ensaio na Castigo de Bíceps, um 7b+ do mesmo sector, algo sobrecotado, mas que nem por isso se deixou encadear.

Tinhamos previsto inicialmente ficar num refúgio que existe mesmo em Benaoján, cujo contacto telefónico tinhamos visto na página da revista Desnivel. Mais tarde, por impossibilidade de efectuar a reserva, acabámos por decidir ficar no Camping El Sur, em Ronda, onde já tinhamos ficado noutras ocasiões. Afinal, depois de um pouco de charme do nosso galã de serviço, conseguimos assegurar uma habitacion no Albergue La Ermita. Foi lá que fomos instalar-nos no final desse dia de escalada. Como nem todos conheciam a cidade de Ronda, decidimos ir até lá para jantar. Começamos por espreitar a grandiosa ponte sobre o desfiladeiro que separa Ronda em duas. É um lugar mágico, que nunca nos cansamos de mirar. Depois fomos reconfortar o estômago na pizzaria Nonno Peppe, onde já uma outra vez tinhamos sido muito bem tratados. Fica numa das primeiras ruas à direita depois de atravessar a ponte da parte velha para a nova. O dono é um italiano que simpatiza particularmente com portugueses, as pizzas são uma delicia e os preços são marroquinos.
Desfiladeiro de Ronda

Logo após o nosso jantar foi necessário alimentar também a pequena Madalena. Defraudados pela fraca qualidade do fusivel do isqueiro da carrinha onde nos faziamos transportar, tivemos que recorrer a um fogão de montanha prudentemente incluido na bagagem do condutor. A comensal não deu pela falha.

De regresso ao Albergue, houve ainda quem sentisse forças para partir em demanda das castanhas assadas e respectivo acompanhamento. Neste caso, por tradição local, a bebida oficial do S. Martinho é o Aniz. Não me foi possível apreciar este nectar, mas consta que a manhã seguinte não foi das mais fáceis para alguns dos escaladores. O Albergue La Ermita é uma daqueles refugios familiares que abundam em Espanha, asseado, barato, muito confortável e onde somos tratados com uma amabilidade a que não estamos acostumados. Os quartos são de 4 beliches cada um, com casa de banho própria e aquecimento. Imagens do albergue -->

Zé Maria - Miratela Bien - 6c

O principal defeito das falésias de Benaoján é o facto de serem encostadas à estrada. Por esse motivo, no dia seguinte rumámos a Puerto Del Viento, uma escola referida na Desnivel Especial Escuelas, mas da qual não tinhamos topo guias. Esta falésia situa-se junto à passagem de montanha que lhe dá o nome, assinalada no mapa cerca de 13.5 Km a Este de Ronda. O ambiente é fabuloso, a vista é deslumbrante e a rocha é um calcário cinza, muito aderente e de excelente qualidade. Apesar de desconhecermos o nome e cotação das vias escalámos uma série delas, com dificuldades calculadas entre V+ e 6c+/7a, sendo algumas de 2 largos. O intenso calor que se fazia sentir forçava aqueles que estavam no solo a procurar sombra sob as manchas de denso arvoredo. Sobretudo as grávidas e as crianças de colo que as havia ambas nesta expedição.
Só deixámos o local quando as sombras já se alongavam e a rocha começava a cobrir-se de amarelos e doirados.

Seguindo a sugestão dos boémios da noite anterior, decidimos jantar no restaurante da Estação onde aqueles se haviam deliciado com castanhas, aniz e simpatia. É um velho armazém de carga, mesmo junto à linha do comboio, especializado em carnes assadas em forno a lenha. Tal como na Pizzaria do primeiro dia, comemos como abades, fomos tratados como monarcas e pagámos como reformados. Agora que temos a mesma moeda, verificamos com desgosto quão miserável é o nosso poder de compra comparado com o do país vizinho.
Terminámos o serão, em redor de uma confortável lareira que aquece a sala de convivio do refúgio nas noites frias, com uma boa disposição a que não foram alheios os vapores etílicos.

No último dia da nossa pequena viagem arrumámos as mochilas nos carros e partimos para Oeste, em direcção a Grazalema, um dos mais belos Pueblos Blancos de Andaluzia, rodeado de rocha. Por manifesta falta de tempo (e de nivel...) não nos foi possivel disfrutar da imensidão de vias que formam esta escola. Para quem ande a escalar em torno do 7b à vista, tem nesta falésia um vasto conjunto de vias desta ordem de dificuldade, quase sempre em placas verticais ou levemente subprumadas, com comprimentos na vizinhança dos 25 a 30 metros e um calcário sólido e esburacado. Pela nossa parte escolhemos um sector com um acesso rápido e vias fáceis, à direita da Santa, perto da estrada. Quase todas as vias eram de 6b+ e algumas eram francamente interessantes. Ficámos a saber, pela reacção de alguns espanhóis que se encontravam no sector quando chegámos, que não estão habituados a ver Boxer Shorts coloridos. A exibição de uns modernos exemplares provocou uma reacção tão hilariante que os fez abandonar o local.

Restáva-nos o regresso a casa, começando por uma estrada belíssima que liga Grazalema a Sevilha, passando pela povoação de Zahara de La Sierra que mereceu a atenção do fotógrafo, como poderão ver abaixo. A lei das compensações fez com que, à chegada a Lisboa fossemos brindados com uma fila de trânsito na autoestrada do Algarve com 40Km de extensão. Depois de um fim de semana tão agradável, era preciso um sinal que nos trouxesse de novo à realidade.

Topos de Benaoján Online: http://www2.uca.es/huesped/cspinar/Msur/Revista4/Repor2/Benaojan2.html

Texto: Zé Maria - zm@gmesintra.com

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